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Espécie nova de peixe-elétrico é descoberta na Amazônia

A Amazônia é cheia de mistérios e temos muita coisa para descobrir lá. Uma das mais novas descobertas é essa espécie de peixe-elétrico.

Por mais de dois séculos acreditou-se que existia somente uma espécie do poraquê e essa pesquisa mostrou que existem pelo menos mais duas.

Existem diversos peixes-elétricos na Amazônia, mas acreditavam que só tinha um poraquê

Sendo que uma delas emite a maior descarga elétrica do reino animal! 4 vezes mais forte que a maioria das tomadas do Brasil

O Poraquê na Amazônia

Os peixes-elétricos fazem parte de um grupo de 256 espécies que conseguem produzir naturalmente eletricidade.

Um dos peixes elétricos que encontramos na amazônia

Eles a usam para detectar presas e predadores, comunicação e se orientar durante alguma locomoção.

O poraquê é conhecido por ser o único que consegue produzir altas descargas elétricas para poder caçar e se defender.

Podendo chegar a incríveis 2,5 metros de comprimentos de 20 quilos, ele é típico da região amazônica e desde a sua descoberta acreditava que era o único da espécie.

Mas parece que a história mudou.

“Por ser um peixe muito característico, ninguém nunca havia prestado atenção para verificar se de fato era uma única espécie, ou se haviam outras envolvidas”, diz  Jansen Zuanon, pesquisador do Inpa que é especialista em peixes da Amazônia.

Veja as características das duas novas espécies:

Electrophorus voltai

Esse foi o que mais chamou atenção, pois ele produz uma descarga de 860 volts, a maior de todos os animais conhecidos, quebrando o recorde antigo de 650 volts do E. electricus.

Os pesquisadores acreditam que ele tem essa forte descarga graças ao habitat que vive.

Electrophorus Voltai Foto por Leandro Sousa/Arquivo Pessoa/BBC News

O Electrophorus voltai vive em rios que normalmente drenam o escudo brasileiro, que é nos estados do Pará Amazonas e Amapá, habitando regiões com altitudes acima dos 300 metros, cercado por cachoeiras, córregos e rios com substratos rochosos de águas claras e bem oxigenadas.

Por viver em regiões com pouca quantidade de sais dissolvidos e baixa condutividade elétrica é possível que ele tenha se adaptado para poder conseguir atordoar suas presas.

Você pode está se perguntando, como assim baixa condutividade elétrica na água?

Ao contrário do senso comum, a água não é condutor elétrico mas sim os sais, minerais e impurezas contidas nela.

Por isso acreditam que essa voltagem foi adaptação do Voltai para aquela região de baixo sais.

Mas lembre que a água comum que usamos conduz eletricidade, então cuidado

O seu nome é uma homenagem a Alessandro Volta, o físico italiano que inventou a bateria elétrica em 1799, sendo que o design dela foi baseado no primeiro poraquê descoberto.

Electrophorus varii

Vivendo em um habitat totalmente diferente do anterior, a maioria dos Variis ficam em terras baixas, de igarapés de terra firme da Bacia Amazônica a várzeas de grandes rios de águas barrentas.

Electrophorus varii Foto por Fernando Jerep/Arquivo Pessoal/BBC News

Dos 3 poraquês ele é o que tem a descarga elétrica mais fraca, variando de 151 a 572 volts.

Seu nome é em homenagem ao zoólogo Richard P. Vari, pesquisador da Instituição Smithsonian(EUA) e companheiros de trabalho dos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia(Inpa).

Richard P. Vari, o pesquisador homenageado, faleceu em 2016

Como foi feita a pesquisa?

O estudo foi publicado na revista Nature Communications, com contribuição dos pesquisadores da Inpa.

A pesquisa faz parte do projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo(Fapesp) que financia expedições para lugares remotos com o objetivo de encontrar, descrever e entender espécies.

A definição dessas espécies foram feitas a partir de um grande quantidade de dados incluindo morfologia externa, DNA, detalhes do esqueleto e a distribuição geográfica dos animais.

Isso resultou na identificação de três linhagens principais, essas que se diferenciam nos períodos do Mioceno e do Plioceno, algo em torno de 3 a 7 milhões de anos atrás, bem antiguinho.

Para nossa alegria o primeiro autor do artigo é um brasileiro.

Foto por Douglas Bastos/Arquivo Pessoa/BBC News

Foi o Carlos David Santana, um pesquisador associado do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian.

Por parte do Inpa, assinaram o trabalho o Jansen Zuanon, o técnico Renildo de Oliveira e Dougla Bastos, engenheiro de pesca e estudante de doutorado. 

Douglas acredita que estudos como esses são muitos importante pois mostram um pouco sobre a diversidade e biologia dos peixes amazônicos que sempre estamos falando no blog.

Veja também: Novo Peixe-boi é descoberto na Amazônia por fóssil de 45 mil anos

Ele diz que mesmo uma espécie tão comum e de fácil identificação, como é o caso do poraquê, ficou quase 250 anos “escondida”.

Por exemplo, no Bosque da Ciência, uma área pública para visitas do Inpa, tem um exemplar do Electrophorus varii.

“Isso é um sinal que temos muito trabalho pela frente, tanto na descoberta de novas espécies de peixes elétricos, como no entendimento de aspectos biológicos e comportamentais dos peixes elétricos” diz Douglas.

“A pesquisa com essa biodiversidade é essencial. Muitos dos componentes dos remédios comerciais que se usam hoje são derivados de plantas e animais descobertos através de pesquisas com essas espécies. Cada uma delas é um depósito genético imenso.” completa David.

É um perigo para os humanos?

Em uma entrevista para a Agência Fapesp, Carlos explica que a descarga é de alta tensão mas a amperagem é baixo, algo em torno de 1 ampere.

Isso quer dizer que não oferece risco para as pessoas, se comparados a um choque de uma tomada elétrica que tem 20 amperes.

“O choque atordoa a vítima. É suficientemente forte para ajudar os peixes a capturar presas ou assustar um predador” diz ele.

Eles normalmente não representam perigo

Além disso, a corrente que os poraquês emitem são por pulsos e esgota sua energia após algumas descargas, tendo que esperar um tempo para recarregar.

“Não é suficiente para matar uma pessoa. A tomada produz uma corrente constante. O E. voltai dá uma descarga alternada. Quando ele descarrega da primeira vez, o choque dura de 1 ou 2 segundos, e ele precisa de um tempo para recarregar”, diz Carlos, que sentiu pessoalmente mais de um choque do peixe-elétrico.

“Claro que dói, você sente uma contração muscular”, completa ele.

O poraquê sempre foi fonte de estudos para a ciência, graças a sua capacidade e produzir eletricidade.

“O conceito de eletricidade surgiu em função desses organismos e o poraquê teve um papel histórico muito importante para descoberta de eletricidade”, diz Jansen.

Foi graças ao poraquê que o físico Alessandro desenvolveu a primeira pilha. Fora que foi descoberta a acetilcolinesterase a partir dos estudos da fisiologia desse peixe, substância usada para tratar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson.

Curiosidades

  • No início se pensava que o Voltai era solitário, mas foi visto que em caso de ameaça ele pode se juntar em grupos de 10 indivíduos, além de poder se juntar para capturar uma presa
  • Graças a essa descoberta do trabalho em grupo, o pesquisador Carlos faz uma ressalva ao risco contra humanos
    “Teoricamente, se uma pessoa estiver em um rio cercado desses peixes, aí sim o problema pode ser bem mais sério. Quando um peixe descarrega, todos os outros descarregam também e, nesse caso, um ser humano nas redondezas poderia ter uma parada cardíaca ou morrer por afogamento, mas nunca ouvi falar disso acontecer.” diz ele
  • As duas espécies são encontradas nos rios xingu e Tapajós, e por hora não consideradas ameaçadas, mas a atual crise ambiental na Amazônia provocada pela hidrelétrica de Belo Monte pode mudar esse status.
  • A descarga são feitas por 3 órgãos elétricos do peixe.
  • A classificação de novas espécies na ciência é feita a partir das características ecológicas, morfológicas, e genéticas. Mas no caso do poraquê foi classificado principalmente pela voltagem, algo nunca feito antes para identificar uma nova espécie.

É lindo ver esse tipo de descoberta, só mostra que temos muito e muito que ver ainda pelos nossos rios.

Temos muito o que descobrir ainda

Quando feita por brasileiros então? Uma maravilha pois mostra que nossa nação tem bastante potencial.

O que nos resta fazer é cuidar de nossas águas e se consciente, por exemplo, nunca pescar o peixe no tempo de seu defeso.

Com essa simples prática já ajudamos a preservar muitas espécies do planeta.

Eu faço minha parte e você faz a sua, que tal??